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Jack Kerouac - poeta e escritor da geração beat ("Musa" inspiradora deste blog)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quase...nítido, mas todo nulo


Já lá vai algum tempo que por mero acaso, quase pus fim à própria alma. Vivia tempos conturbados. Tingida de um negro longe do seu crepúsculo, como se de um actor de teatro do absurdo me tratasse. A esperança estava a milhas da costa, o corpo ia-se ressentindo aos poucos do stress vivido na consciência. Era um corpo de Dezembro, frio, erecto, como um pau de madeira coberto de neve há já alguns dias. O universo em que existia era um oceano surrealista. Não me faltavam pessoas que me quisessem acompanhar/ajudar, e lembrar-me de que existe vida para além da minha. E ver a vida passar fazia-me tédio e tristeza. Tédio por vê-los - aos outros viverem-na. Tristeza, porque é mais duro sermos infelizes assistindo à felicidade alheia.
Vai daí, lembrei-me do condenado na história ficcional - Nítido Nulo, de Vergílio Ferreira. Romance escrito em 1969, ano da morte do Chefe do regime fascista e tempos revolucionários. Aqui o escritor põe em causa Deus e o pecado original. Salazar e o regime. A revolução e a acção revolucionária. A liberdade e a prisão. Em que se desemboca no eterno "´nítido nulo" do horizonte.
Para além de todas as interpretações denunciadas por certas sumidades na matéria (universo vergiliano), tenho a minha em que penso: que nos defrontamos com a ideia de que a maior dor que se pode proporcionar é mostrar o maior bem e prazer, ou pelo menos não permitir que nos esqueçamos, mas que devido à sua condição temporal de condenado, não lhe é permitido o usufruto dos mesmos:
...«a sala é larga e limpa. As próprias grades são pintadas de branco para deixarem passar a alegria que puderem. Decerto entendeu-se que sofria mais assim».

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